De modo a não psicologizar o assunto e tentar traduzir numa linguagem que atinja a todos é que escrevo esse texto. Sobre a Síndrome do Impostor vale salientar a diferença entre síndrome e transtorno. O transtorno é um conjunto de sintomas que evidenciam a alteração do estado normal de saúde em doença. É transtorno porque transtorna a vida. Nós temos na área de saúde mental o famoso DSM que é a sigla de Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais criado pela Associação Americana de Psiquiatria como uma forma de não só padronizar, mas de servir como manual mesmo para consultas dos sintomas que caracterizam determinado transtorno.
Já a síndrome cuja palavra etimologicamente significa reunião ou ajuntamento é um conjunto de sinais que caracterizam uma condição. E aqui vale outra observação: a síndrome é uma condição. Portanto, a síndrome do impostor é entendida como uma autopercepção equivocada e falsa. É uma crença que acaba por nortear o comportamento e as ações da pessoa.
Essa condição inibe o sujeito, pois carrega o sentimento de que ilude a todos que o cerca dando a pessoa uma sensação muito forte de que ela é uma impostora. Que está enganando as demais. É um sentimento altamente potente de falta de pertencimento, não se sente parte daquilo que participa ou realiza. Sabe o ditado popular: a grama do vizinho é sempre mais verde? Pois é, quem está nessa condição da síndrome do impostor, vai superdimensionar as habilidades dos outros em um detrimento muito forte das suas.
Uma das consequências bem recorrentes e que inclusive se manifesta muito no mundo corporativo é a autocobrança. Decorrente de métodos perfeccionistas da família nuclear a pessoa passa a ter uma cobrança desmedida de si mesmo (a), a pessoa vira uma justiceira de si própria. Tenho que dar mais (e as vezes já deu tudo), tenho de fazer mais, tenho de performar melhor, não posso errar e afins.
Além do perfeccionismo outra causa está ligada a insegurança psicológica que vai produzir como causa a procrastinação. Uma pessoa insegura usará a procrastinação como medida paliativa para não fazer o que precisa ser feito e que é até inerente a sua atividade, pois se sente insegura, isto é, inadequada para tal.
Outra causa comumente é a crença de desvalor. A crença do desvalor gera sentimento de baixa apreciação por si. A pessoa que de modo muito frequente e intenso usa a primeira pessoa como: eu sou feio, eu sou burro (a), eu sou incapaz, eu sou fraco (a) etc. A pessoa se sente uma fraude, uma mentira. Os outros são bons, adequados, habilidosos e ela é sempre o oposto.
Uma boa maneira de lidar com a síndrome do impostor é trabalhar a ressignificação dos sentimentos. Uma pessoa precisa ter convicções e isso não é ruim. Quando ela não tem, tudo que a cerca, tudo o que ela escuta a define como pessoa. ter convicção não tem a ver com soberba. Tem a ver com a validação de si. De considerar os pontos positivos que se tem e não somente superdimensionar os negativos.
Uma outra boa medida de lidar com a síndrome de impostor é buscar feedback. Lembrando que feedback é um retorno positivo. Se abrir para escutar do líder direto, dos colegas um feedback a respeito do seu trabalho e comportamento. Como o medo de ser criticado (a) é uma consequência da síndrome, buscar o enfrentamento do medo através do feedback é uma ação positiva para lidar com ela.
E a psicoterapia. No processo psicoterapêutico a pessoa começa a se dar conta do que diz de modo mais consciente. Na relação com o psicólogo (a) a fala é colocada muitas vezes numa caixa de ressonância para ecoar possibilitando escutar o que está dizendo e se é razoável ou não, se está no campo da ideação ou da realidade. Sobretudo, quando esses comportamentos começam a governar as suas ações, procure um profissional da saúde mental e se dê a oportunidade de autocuidado de modo mais aprofundado.
Os impactos na vida profissional e pessoal podem ser danosos. Por isso, olhar com atenção para si e buscar ajuda é um movimento importante de reflexão-ação.
Anderson Flávio Batista
Psicólogo clínico
CRP 06/149648
Psicólogo clínico, com pós-graduação em Neurociências pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Faço atendimentos individuais para adolescentes, adultos e idosos. Trabalho com atendimento online para qualquer lugar do Brasil e exterior.